sábado, 29 de abril de 2017

A ARTE DE SER CRIANÇA

Vida Maria, um curta-metragem que todos os alunos devem assistir




O filme nos mostra a história da rotina da personagem “Maria José”, uma menina de cinco anos de idade que se diverte aprendendo a escrever o nome, mas que é obrigada pela mãe a abandonar os estudos e começar a cuidar dos afazeres domésticos e trabalhar na roça. Enquanto trabalha ela cresce, casa e tem filhos e depois envelhece e o ciclo continua a se reproduzir nas outras Marias suas filhas, netas e bisnetas.
São apresentadas no filme imagens que mostram uma semelhança muito grande com a realidade, traços bem parecidos com o real onde vemos crianças que tem sua infância interrompida, muitas vezes para ajudar a família a sobreviver, infância essa resumida a poucos recursos e a más condições de vida.
Maria Jose aprendendo a escrever
A Maria do filme mostra satisfação em apenas escrever seu primeiro nome, o momento em que sua mãe lhe chama a atenção dizendo: “Não perca tempo “desenhando” seu nome!”, é tirado o seu futuro de ser uma pessoa diferente de sua mãe, que não tem uma visão do futuro, querendo dar à filha a mesma criação que teve num processo de reprodução sem mudanças de suas perspectivas por comodismo.
O filme retratou como o indivíduo em formação internaliza os eventos e as experiências vividas na infância e como são determinantes para formação daquela pessoa na vida adulta. No filme a menina Maria foi arrancada do seu mundo lúdico, quando sua mãe a repreende por estar escrevendo, ela corta da vida da filha os sonhos, os objetivos de uma vida melhor.
A mãe da personagem vive aquela vida sem perspectiva por que foi isto que aprendeu e da mesma forma ensina a filha Maria e esta reproduz para seus filhos, que também foram estimulados a deixar de sonhar e de brincar. A ausência da educação nas gerações mostra como na infância é importante o lúdico e a escola.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

COMPORTAMENTO

As crianças amadas se tornam adultos que sabem amar


Nossas primeiras experiências com o mundo marcam o início do nosso desenvolvimento emocional. Na infância se tece uma rede que conectará nossa mente e nosso corpo, o que determinará em grande parte o desenvolvimento da capacidade de sentir e de amar.
Neste sentido, nosso crescimento emocional dependerá dos nossos primeiros intercâmbios emocionais, que nos ensinarão o que ver e o que não ver no mundo emocional e social no qual nos encontramos.
Assim, o campo da nossa infância nos permite semear o amor de maneira natural, o que determinará que a capacidade de amar e de sermos amados cresça de maneira saudável e nos ajude a nos desenvolvermos no futuro.
“Somos seres emocionais que aprendem a pensar, não máquinas pensantes que aprendem a sentir”
Stanisla Bachrach
Se alimentarmos as crianças com amor, os medos morrerão de fome
As amostras de carinho e afeto elevam a autoestima das crianças e as ajudam a construir uma personalidade emocionalmente adaptada e inteligente. Ou seja, o nosso amor as ajuda a lidar com os medos naturais que surgem nas diferentes idades, fomentando um grau de sensibilidade saudável.
As crianças têm uma confiança natural em si mesmas. De fato, nos surpreende que frente a desvantagens insuperáveis e fracassos repetidos elas não desistam. A persistência, o otimismo, a automotivação e o entusiasmo são qualidades inatas das crianças.
Percebermos isso nos ajuda a sermos conscientes do quão importante é amarmos nossos filhos e educá-los em relação ao respeito, empatia, expressão e compreensão dos sentimentos, controle da impaciência, capacidade de adaptação, amabilidade e independência.
© Beata Chipman

O que podemos fazer para criar crianças felizes e saudáveis?
O temperamento de uma criança reflete um sistema de circuitos emocionais inatos específicos no cérebro, um esquema de sua expressão emocional presente e futura, e de seu comportamento. Estes podem ser adequados ou não, por isso a educação deve se tornar um apoio e um guia para elas.
Para alcançar uma saúde emocional ideal, devemos mudar a forma como se desenvolve o cérebro das crianças. A ideia é que através do amor e da educação emocional estimulemos certas conexões neuronais saudáveis.
Ou seja, todas as crianças e todos os adultos partem de certas características determinadas que devem ser administradas em conjunto para que possamos alcançar o bem-estar físico e emocional.
Por exemplo, quando uma criança é tímida por natureza os adultos que se encontram ao seu redor a protegem exageradamente, fazendo com que ela se torne ansiosa com o passar do tempo.

A educação emocional requer uma certa “desaprendizagem” adulta. Uma criança tímida deve aprender a dar nome às suas emoções e a enfrentar o que a perturba, não deve sentir que cortamos suas asas porque ela é vulnerável.
Um adulto deve demonstrar empatia sem reforçar suas preocupações, propondo, por sua vez, novos desafios emocionais que a permitam evoluir. Deve-se proteger a saúde emocional da criança através do desenvolvimento de suas características naturais.
amada
As chaves básicas de uma educação emocional saudável
1. Os especialistas costumam recomendar que ajudemos as crianças a falarem de suas emoções como uma maneira de compreender a si mesmas e os demais. Entretanto, as palavras só dão conta de uma pequena parte (10%) do verdadeiro significado que obtemos através da comunicação emocional.
Por essa razão, não podemos ficar só na verbalização; devemos ensiná-las a compreender o significado da postura, das expressões faciais, do tom de voz e de qualquer tipo de linguagem corporal. Isso será muito mais efetivo e completo para o seu desenvolvimento.
2. Há anos vem se promovendo o desenvolvimento da autoestima de uma criança através do elogio constante. Entretanto, isso pode fazer mais mal do que bem. Os elogios só ajudarão as nossas crianças a se sentirem bem consigo mesmas se eles estiverem relacionados a ganhos específicos e ao domínio de novas aptidões.

3. O estresse é um dos grandes inimigos da infância. Entretanto, é um inconveniente com o qual elas têm que conviver, por isso protegê-las em excesso é uma das piores coisas que podemos fazer. devem aprender a enfrentar estas dificuldades naturais de tal forma que desenvolvam novos caminhos neurais que as permitam se adaptar ao meio no qual vivem.
Não podemos tentar criar nossas crianças em um mundo da Disney de inocência e ingenuidade. O estresse e a inquietação fazem parte do mundo real e da experiência humana, tanto quanto o amor e o cuidado.
Se tentarmos eliminar esses obstáculos, impediremos que elas tenham a oportunidade de aprender e desenvolver capacidades realmente importantes que as ajudem a enfrentar desafios e decepções que são inevitáveis na vida.

domingo, 16 de abril de 2017

EMOÇÕES E CUMPLICIDADE

Cafuné, a cumplicidade em um carinho feito com a alma




























Dizem que cafuné é uma das palavras mais bonitas que existem e que mais bonita ainda é a ação que a palavra simboliza: acariciar os cabelos com amor. Esta palavra só existe na língua portuguesa e não tem uma origem determinada.
Alguns dizem que “cafuné” vem do quimbundo, língua africana, e que inicialmente a palavra kafu’nu não teria um significado tão emocional, sendo apenas “tomar a cabeça de alguém e torcê-la”. Com o tempo a palavra ganhou o significado mais carinhoso de acariciar com os dedos os cabelos de alguém de modo amoroso.
 Assim, através de derivações, a palavra tomou essa conotação de que falamos, a de acariciar com a alma, dando lugar a um significado mais emocional.
Um cafuné é algo mais que um carinho unido a um momento bonito, isso porque designa uma cumplicidade, um encontro emocional, algo que vai mais além de um mero contato carinhoso. Agora, ainda que para alguns de nós fazer um cafuné seja acariciar com a alma, para outros pode ser algo mais ou menos intenso.

Carinhos com a alma nos preenchem de emoções

Podemos ser seduzidos através de palavras e de carícias que envolvem contatos de pele com pele, no sentido tradicional, de nascimento de um sentimento e de reações emocionais que temos. Quando falamos de sentimentos há muito que se falar e todos têm uma opinião, mas no fim cada um tem que pensar, sentir e validar suas próprias opiniões.
Somos seres emocionais que pensam através da linguagem e das emoções, por isso sabemos que fazer os outros sentirem nosso afeto é um dos melhores presentes que temos para dar.
Sentir um carinho da alma é sentir a união de nossas emoções. Os problemas desaparecem por segundos, a angústia se deixa envolver pelo amor, e por alguns momentos vinculamos toda nossa constelação de energias a outra pessoa.
Um cafuné proporciona uma paz deslumbrante, pois não há nada que nos faça sentir melhor do que saber que somos queridos, valorizados e apoiados.

O baile químico de nossas emoções

O que chamamos metaforicamente de união de almas se converte em um baile químico a nível cerebral. Nossas emoções se combinam sutilmente em forma de dopamina, serotonina, oxitocina e noradrenalina, hormônios do nosso corpo.
Com os carinhos por meio dos quais nos vinculamos, criamos um sem fim de ligações afetivas que potencializam nosso bem-estar e nos ajudam a ter controle sobre nós, colocando à nossa disposição um leme e uma âncora que sem dúvida poderão nos sustentar em nossa vida.
Porque no fim, dar e receber um cafuné depende em grande parte de nosso desenvolvimento sócioemocional. Convém, por tanto, ancorar-se nessas experiências, melhorar nossa consciência para dar e receber amor.

O encontro mais íntimo entre duas pessoas não é o sexual, é a abertura emocional

O encontro mais íntimo entre duas pessoas não é o sexual, é a abertura emocional. Essa troca só pode ser produzida quando vencemos o medo e temos sucesso em nos abrir verdadeiramente e conhecer o outro como somos, vendo a pessoa como ela é, sem máscaras e mentiras.
Podemos seduzir e ser seduzidos através de nossas emoções. Costumamos, no entanto, descuidar dessa faceta e menosprezar nossa capacidade de se conectar e sentir através do autoconhecimento. Porque um cafuné começa com isso, com nossa capacidade de gostarmos de nós mesmos, de utilizar nossas emoções para seguir crescendo, aprendendo, evoluindo com nossas experiências para nos abrimos para os outros e permitirmos esse encontro emocional.
Definitivamente, um cafuné pode levar embora nossos medos, nossas inseguranças e nos abrir emocionalmente. É romper medos e entregar calor e proximidade através de carinhos. Tudo isso, sem dúvida, merecia ser descrito por uma linda palavra.

LITERATURA

Cora Coralina “Feliz é o professor que aprende ensinando”


Exaltação de Aninha
(O professor)
Professor, “sois o sal da terra e a luz do mundo”.
Sem vós tudo seria baço e a terra escura.
Professor, faze de tua cadeira,
a cátedra de um mestre.
Se souberes elevar teu magistério,
ele te elevará à magnificência.
Tu és um jovem, sê, com o tempo e competência,
um excelente mestre.
Meu jovem Professor, quem mais ensina e quem mais aprende?
O professor ou o aluno?
De quem maior responsabilidade na classe,
do professor ou do aluno?
Professor, sê um mestre. Há uma diferença sutil
entre este e aquele.
Este leciona e vai prestes a outros afazeres.
Aquele mestreia e ajuda seus discípulos.
O professor tem uma tabela a que se apega.
O mestre excede a qualquer tabela e é sempre um mestre.
Feliz é o professor que aprende ensinando.
A criatura humana pode ter qualidades e faculdades.
Podemos aperfeiçoar as duas.
A mais importante faculdade de quem ensina
é a sua ascendência sobre a classe
Ascendência é uma irradiação magnética, dominadora
que se impõe sem palavras ou gestos,
sem criar atritos, ordem e aproveitamento.
É uma força sensível que emana da personalidade
e a faz querida e respeitada, aceita.
Pode ser consciente, pode ser desenvolvida na escola,
no lar, no trabalho e na sociedade.
Um poder condutor sobre o auditório, filhos, dependentes, alunos.
É tranquila e atuante. É um alto comando obscuro
e sempre presente. É a marca dos líderes.
A estrada da vida é uma reta marcada de encruzilhadas.
Caminhos certos e errados, encontros e desencontros
do começo ao fim.
Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
O melhor professor nem sempre é o de mais saber,
é sim aquele que, modesto, tem a faculdade de transferir
e manter o respeito e a disciplina da classe….

PAI E FILHA

“Pai e filha”: um vídeo que mostra que os laços do afeto são mais fortes que o Tempo

No ano 2000, Pai e filha ganhou o Oscar de Melhor Curta-Metragem, dirigido pelo holandês Michael Dudok de Wit .
Conta a história de um pai que deixa sua filha e sai com o seu barquinho a navegar.
Começa com duas figuras que montam suas bicicletas, a menor das rodas em perfeita simetria com a maior. O pai e filha sobem ao topo de uma colina, onde o pai pousa, desce da bicicleta e se despede da filha, mas, antes de partir, ele volta e abraça novamente a pequena antes de remar para o horizonte distante.
A filha, em cada fase da vida, volta àquele lugar à espera do pai. É emocionante…

PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO

A arte de ser sábio consiste em ignorar com inteligência



Sábio não é aquele que acumula muitos conhecimentos e experiências, e sim aquele que sabe usar de forma eficaz cada coisa aprendida, e além disso é capaz de ignorar tudo aquilo que não é útil, que não lhe permite crescer para avançar como pessoa.
Viver é, no fim das contas, economizar e saber o que é importante. Agora, parece que a maioria de nós não aplica esta simples regra: segundo um estudo realizado pela Universidade de Harvard, as pessoas têm uma capacidade surpreendente de concentrar a sua atenção em coisas que “não estão acontecendo”. Isto é, nos preocupamos com aspectos que não são importantes, minando a nossa própria capacidade de sermos felizes no “aqui e agora”.
A primeira regra da vida nos indica que a pessoa mais sábia é aquela que sabe ser feliz e que é capaz de eliminar da sua existência tudo aquilo que lhe faz mal ou que não é útil.
A arte de saber ignorar não é nada fácil de aplicar em nosso dia a dia. Isso se deve ao fato de que ignorar supõe, muitas vezes, nos afastarmos de certas situações e inclusive de certas pessoas. Portanto, estamos frente a um ato de autêntica valentia, que vem precedido sempre de uma avaliação inteligente.

Ignorar é aprender a priorizar

Ser feliz é a arte da escolha pessoal. Podemos ter sorte em um dado momento, mas na maioria das vezes a felicidade vai depender de nós mesmos e das decisões que tomarmos.
Para isso, é necessário adquirir uma perspectiva não apenas mais positiva das coisas, como também mais realista, onde o autoconhecimento e a autoestima sempre serão fundamentais.
A vida é muito curta para nos alimentarmos de amarguras e de frustrações: descarregue as suas lágrimas, ignore as críticas e rodeie-se daqueles com quem você se importa e que acrescentem algo para você de verdade.

Como aprender a estabelecer prioridades

Para aprender a estabelecer prioridades é preciso dar a cada coisa que nos rodeia o seu autêntico valor. Não o que pode ter de forma objetiva, e sim o que pode acumular em função das nossas necessidades e desejos. Para isso, é preciso seguir estas dimensões.
Se para você é difícil escolher entre o que é importante e o que não é, é porque você tem um conflito interno entre as coisas que você quer e as que você sabe que lhe convêm.
Existe o medo de “ficar mal”, “ferir” ou inclusive de agir de uma forma diferente de como os outros esperam se nos atrevermos a quebrar vínculos.

Quanto maior o nível de estresse e ansiedade, mais difícil será estabelecer prioridades. Portanto, reflita sobre quais situações e quais pessoas têm valor real para você em momentos de calma pessoal, quando você se achar mais equilibrado e relaxado.
Pense naquilo que é importante para você e não para os outros; não tema as críticas alheias ou o que possam pensar em função das decisões que você quer tomar.
Entenda que priorizar não é apenas ignorar o que nos prejudica, é reorganizar a vida para encontrar espaços próprios para ser feliz.
menina-com-coruja

Ignorar certas pessoas também é saudável

Segundo um trabalho interessante publicado na revista Live Science, os relacionamentos pessoais que causam estresse ou sofrimento afetam a nossa saúde mental. Experimentamos um aumento do cortisol no sangue e na pressão arterial, a ponto de aumentar o risco de sofrermos problemas cardíacos severos. Não vale a pena.

Aprender a ignorar quem não nos acrescenta nada

Não se trata de brigar, nem de usar ultimatos ou chantagens. Saber ignorar é uma arte que pode ser realizada com elegância e sem chegar a extremos desnecessários. Para isso, tenha em mente estes aspectos para refletir.
Não se preocupe com o que você não pode mudar: aceite que esse familiar continuará tendo essa atitude fechada, que o seu colega de trabalho vai continuar sendo intrometido. Deixe de acumular emoções negativas como raiva ou a frustração e limite-se a aceitá-los do jeito que são.
Ignore críticas alheias enquanto você aumenta a sua própria confiança. É muito provável que, na hora em que você decidir tomar distância de quem não interessa, apareça a rejeição. Entenda que as críticas não definem você, elas não são você. Fortaleça a sua autoestima e saboreie cada passo que você dá em liberdade, longe de quem o prejudica. É um triunfo pessoal.
Quando a ajuda é uma atitude interessada: é importante aprender a discriminar essas atitudes de supostos altruísmos. Há quem repita sem parar essa expressão de “eu faço tudo por você, para mim você é o mais importante”, quando na verdade a balança desse relacionamento sempre pende para um lado que não é o seu. Nunca existe o equilíbrio.
Quanto mais leve, melhor. Na vida, vale a pena contar com “pessoas” e não acumular “gente”, portanto, priorize e avance leve: leve de aborrecimentos, raiva, frustrações e principalmente de pessoas que, longe de valer a alegria, só valem penas e distâncias.
A arte de ser sábio é compreender quais vínculos é melhor deixar de alimentar sem ter nenhum peso na consciência por ter dito “não” a quem jamais se preocupou em dizer “sim”.


quinta-feira, 13 de abril de 2017

LER É PRECISO.

IMPORTÂNCIA DOS GIBIS NA ALFABETIZAÇÃO


A IMPORTÂNCIA DOS GIBIS NA ALFABETIZAÇÃO


 
As histórias em quadrinhos contribuem para despertar o interesse pela leitura e pela escrita nas crianças e para sistematizar a alfabetização. Como as HQs em geral unem palavra e imagem, elas contemplam tanto alunos que já leem fluentemente quanto os que estão iniciando, pois conseguem deduzir o significado da história observando os desenhos. A curiosidade em saber o que está escrito dentro dos balões cria o gosto pela leitura e, assim, os gibis podem ter grande eficácia nas aulas de alfabetização.
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Se hoje essa visão é consagrada entre professores e pesquisadores, nem sempre foi assim. Os quadrinhos usados atualmente em sala de aula eram vistos como concorrentes dos livros de alfabetização, entendidos, portanto, como uma distração prejudicial ao aprendizado. “Os quadrinhos apareceram com mais frequência dentro da escola a partir da metade do século passado. Primeiro, porque quase não existiam. Segundo, porque havia esse preconceito contra eles”, diz Maria Angela Barbato Carneiro, professora titular do Departamento de Fundamentos da Educação e coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da Faculdade de Educação da PUC-SP.

Falta de hábito
Maria Angela acredita que, dentro da escola, os professores ainda usam predominantemente muitos materiais mais tradicionais, como é o caso do livro didático, em detrimento de outros recursos. “Penso que o professor não está habituado com outros procedimentos – como um jornal, uma revista –, e o fato de não estar habituado não lhe traz segurança”, diz. Outro ponto que pode inibir a presença das HQs na alfabetização é o entendimento de que os gibis são meros passatempos e, por isso, serem deixados de lado por conta da crença de que eles serão lidos pelas crianças em casa de todo modo.


Lucinea Rezende, professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR), que desenvolve e orienta trabalhos na área de formação de leitores, concorda que ainda que se tenha avançado bastante na direção de usar múltiplas formas de leitura em sala de aula, fugindo do monopólio do livro didático, ainda se está voltado predominantemente para o texto escrito. “Todos os gêneros que empregam outras linguagens entram devagarinho nas salas de aula”, diz.
Os benefícios da história em quadrinhos para a educação, em particular no ensino fundamental e na alfabetização, são oficialmente reconhecidos. As HQs fazem parte do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), que possibilita a professores e alunos o acesso a obras distribuídas em escolas públicas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) também incentivam o uso de quadrinhos e indicam que nas bibliotecas é necessário que estejam à disposição dos alunos textos dos mais variados gêneros (livros de contos, romances, jornais, quadrinhos, entre outros). O PCN lista ainda a HQ como um gênero adequado para o trabalho com a linguagem escrita.
“Alguns professores olham para a HQ e veem algo distante. Assim não têm entusiasmo, não conseguem comentar sobre aquilo com os alunos”, acredita José Felipe da Silva, professor de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – a disciplina é oferecida a diversos cursos de graduação na Universidade. Ex-professor do ensino fundamental e colecionador de HQs, Felipe da Silva afirma que os quadrinhos foram um impulso para ele mesmo se alfabetizar quando criança. Na escola em que dava aula, na rede municipal de Natal, costumava fazer exposições com revistas e bonecos dos personagens das HQs para atrair a atenção dos alunos.
Imaginação e fantasia
Luciana Begatini Silvério, professora de pós-graduação na área de educação, lembra ainda que o PCN pede que o leitor seja formado como alguém capaz de ler, compreender e interagir com a leitura – entendida não só por meio de palavras e frases, mas, também, por diferentes tipos de linguagem. Com os quadrinhos, a criança em fase de alfabetização que ainda não domina a leitura e a escrita do alfabeto consegue fazer uma leitura competente com o recurso das imagens. “Além disso, a criança precisa muito ser formada no concreto. E nas HQs, os recursos de imagens, expressões dos personagens, letras, metáforas visuais ajudam a ter maior compreensão do que ela está lendo”, afirma.

Entre os elementos que se reconhecem como mais atrativos para as crianças nas histórias em quadrinhos estão aspectos lúdicos, como cores, onomatopeias, personagens e traços. Na dissertação de mestrado de Luciana Begatini Silvério, defendida em 2012 – orientada por Lucinea Rezende, na UEL –, ela fez uma pesquisa de campo com professores e alunos da rede municipal da cidade Primeiro de Maio, no Paraná. A pesquisa não foi feita com alunos em alfabetização e, sim, com estudantes do segundo ciclo do EF. Dos 58 alunos participantes, 30 listaram as HQs entre seus gêneros de leitura preferidos. E três, apenas, afirmaram não gostar de HQs (dois deles alegaram que os quadrinhos são para serem lidos em casa).
Luciana Novello, professora do 1o ano do EF no Colégio Ofélia Fonseca, em São Paulo, destaca justamente o caráter lúdico como um dos elementos de atratividade dos quadrinhos. “As histórias em geral são divertidas, somadas ao colorido das imagens. E temos gibis com histórias bem curtas, de uma página, e para a criança ler fica uma leitura mais prazerosa”, diz. Além disso, a professora afirma que, entre seus alunos, o gibi já faz parte do cotidiano fora da escola: por isso, a familiaridade com os personagens por si só já desperta o interesse das crianças.
Os quadrinhos podem, ainda, ser trabalhados com as crianças em idade de alfabetização em relação com o brincar – como, por exemplo, uma forma de trabalhar a imaginação, o “faz de conta”. “Alguns quadrinhos fazem parte da literatura infantil, e a literatura infantil se alia à brincadeira justamente através do simbólico, da fantasia. Quando você permite que atuem a imaginação e a fantasia da criança é possível que isso faça parte das atividades lúdicas”, diz Maria Angela Barbato Carneiro.
Corrigindo a Mônica
Professor da Escola Polo Municipal Venita Ribeiro Marques, em Aral Moreira (MS), Gilson Matoso considera a HQ uma das melhores maneiras para chamar a atenção das crianças. Pós-graduado em Mídias na Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), ele costuma aliar o trabalho com os quadrinhos a datas especiais – como as festas juninas. E, no segundo ano do EF, trabalha também a gramática. Personagens conhecidos das HQs da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa, o Cebolinha troca o “R” pelo “L” e o Chico Bento tem o registro da sua fala acaipirada, com erros ortográficos. “Fazemos exercícios em que corrigimos algumas palavras dos personagens, passando para a norma culta”, diz Matoso.

Antes de o aluno desenvolver a leitura das palavras e dos desenhos em si – como personagens e cenários – há outros elementos típicos das HQs que as crianças aprendem a ler e a interpretar. “O texto está ali, não podemos ignorá-lo, mas mesmo que as palavras escritas sejam estranhas para o aluno, ele vai fazer a leitura visual­ da narrativa e vai entender que aquilo pode ser uma fala, um grito”, diz José Felipe da Silva.
A leitura do texto em si é facilitada ainda por conta do tipo de letra normalmente grafada dentro dos balões, que é a letra em bastão. Como na maior parte das escolas, a professora Luciana Novello explica que no Colégio Ofélia Fonseca a letra bastão é usada desde o ensino infantil até o primeiro ano, quando é introduzida então a letra cursiva, entre o final do primeiro ano e o segundo ano do EF.
Lucinea Rezende, da UEL, afirma que é importante ainda ter como premissa o tratamento da leitura como algo a ser construído continuamente. Ela ressalta que isso é válido não somente na alfabetização e no ensino fundamental, mas até mesmo na universidade. “Alguns estudantes gostam de ler, outros, não – ou porque não puderam ou porque não se interessaram suficientemente. Nesse caso, a gente precisa usar todos os recursos possíveis: se a criança já lê HQ, o que a escola pode fazer para a criança ler melhor, explorar outras possibilidades?”, questiona. A professora e pesquisadora defende que a escola deve trabalhar, sempre, com uma boa multiplicidade de textos, incluindo as HQs.
Além disso, Lucinea lembra que os alunos acabam desenvolvendo gostos por diferentes tipos de leitura. Por isso, a escola precisa se apropriar de todos os recursos possíveis. “Precisamos pensar ainda o que o professor está almejando quando trabalha a leitura. Quanto à HQ, por exemplo, o que se consegue ver nesse gênero literário? Pensamos na palavra, na imagem, nos personagens?”. A reflexão sobre os materiais usados pelos educadores deve levar em conta, afirma Lucinea, não somente questões da linguagem, mas também, de fundo social das narrativas. “É a partir dessa compreensão que se devem usar as HQs na alfabetização. Alfabetizar é trazer para o mundo da escrita, dos números, para que o aluno possa dialogar e interagir com o mundo”, explica.
Produção do texto
Com as HQs pode-se ainda propor a construção de histórias. “Para a produção de texto os alunos em geral gostam muito dos quadrinhos, por conta do desenho. É uma boa ferramenta para a sequência didática, em que é preciso ter um resultado final da produção deles”, diz Gilson Matoso.

Além de desenhar, pode-se tra­balhar com o texto produzido sobre histórias já feitas, com os ba­lões em branco. “Nesse caso o objetivo não é pensar em inventar a história, mas na escrita, na língua”, diz Luciana Novello, do Ofélia Fonseca. “No 1o ano, a principal ideia do uso do gibi é a aquisição de leitura e escrita. E, eventualmente, um trabalho com arte e ilustrações”, completa.
A professora afirma que os gibis são trabalhados em aula como um gênero textual. Em momentos de leitura planejada, cada aluno escolhe um exemplar para ler – seja ela leitura convencional (fluente) ou não. “Também se lê em dupla, um leitor mais fluente com outro menos fluente”, explica.
Gêneros e interdisciplinaridade
O quadrinho é um gênero em si mesmo, mas, dentro dele, há subgêneros – como romances adaptados e até reportagens em forma de HQ, o que se torna uma vantagem para apresentar outros gêneros de narrativa. “Claro que é preferível ampliar a leitura dos gêneros para outros textos, não somente os quadrinhos. Mas é importante que o professor apresente uma diversidade de gêneros de HQ”, diz José Felipe da Silva, da UFRN.
Além dos gêneros, as diferentes temáticas dos quadrinhos também são um elemento importante em sala de aula – e podem ser trabalhadas tanto com crianças em idade de alfabetização quanto com as maiores. “O foco de minha pesquisa foi buscar a interface entre HQ e a literatura, mas há outros aspectos transversais também, como noções de higiene, temas culturais e históricos”, diz Luciana Begatini Silvério.
Se na alfabetização os quadrinhos podem atrair a atenção das crianças para ler e escrever, nessa mesma fase as HQs podem servir como suporte ou tema para desenvolver outras habilidades – como adivinhas. “Existem também várias atividades que podem ser feitas com a linguagem dos quadrinhos, como noções abstratas de química. Pensamos no Asterix e na sua poção mágica, por exemplo, à qual podemos relacionar uma receita – um suco de laranja – e fazer essa brincadeira”, diz Maria Angela Barbato Carneiro, da PUC-SP.


sábado, 1 de abril de 2017

FILHOS TERCEIRIZADOS!

CRIANÇAS   TERCEIRIZADAS.....
                   UMA   TRISTE    REALIDADE!
16/06/2014  - Renata Pires
Hoje em dia é muito comum ouvirmos o termo “criança terceirizada”. 
Mas o que realmente isso quer dizer e o que isso pode causar nas crianças?
As crianças terceirizadas são aquelas cujo os pais transferem para terceiros a tarefa de cuidar, se preocupar e se responsabilizar por elas. Realmente o termo é um pouco forte, mas, atualmente, os pais estão deixando os filhos sob a responsabilidade de terceiros cada vez mais para fazer suas coisas, mesmo que não seja ir trabalhar.

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Nunca me esqueço de uma história que me contaram e que fiquei chocada… Uma mãe (que não conheço) tem três filhas que ficam aos cuidados da babá, pois ela é executiva de alto padrão e precisa realmente se dedicar à carreira. Até aí, ok… Mas, naqueles dias em que ela poderia chegar em casa mais cedo para ficar com as crianças, ligava para a babá e perguntava se as meninas ainda estavam acordadas. Em caso afirmativo, ela dizia que então entraria pela porta dos fundos para as meninas não a verem e pedia para a babá avisá-la quando já estivessem dormindo. Oi??? Desculpem, mas não consigo entender esse tipo de atitude.
Quero deixar claro que não estou aqui para julgar ninguém, apenas informar pessoas, por meio de dados científicos e psicológicos de algumas consequências que esse tipo de conduta pode causar. Ninguém aqui precisa provar nada para ninguém, criar filhos não é algo que se faça sozinho. Precisamos, sim, de uma ajuda. E também não acho que a mulher precise de fato abandonar sua carreira.

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Enfim, um vídeo muito conhecido do pediatra Dr. José Martins Filho, professor da Unicamp e autor de livros conceituados sobre este mesmo assunto, explica que esse “abandono” traz consequências e faz surgir a figura da “criança terceirizada”. Baseado nele e em outras fontes, fiz uma lista das consequências que isso pode causar.

young mother leaving a child/baby with a baby-sitter
 Vamos à lista!
1) Quebra de vínculos
Por mais que a mãe precise trabalhar, é muito importante que ela se planeje e que consiga ficar o maior tempo possível com seu filho. Substituir os cuidados da criança com algum outro adulto (babá, avó, avô etc.) não é a mesma coisa. O vínculo, principalmente no primeiro ano de vida do bebê, é fundamental e é maior com a pessoa que cuida, que fica junto. Portanto, se o bebê passa 90% do tempo com algum outro cuidador, o vínculo será maior com ele. Martins não critica as mães que precisam realmente trabalhar e ajudar a família, mas pede que priorizem os filhos. “Trabalhem, mas não esqueçam as crianças. Sempre que possível, fiquem com elas. Deem atenção e mostrem carinho”.
2) Educação que os pais não aprovam
Muitos pais exigem que as escolas eduquem seus filhos. Porém, o papel da escola é alfabetizar, ensinar conhecimentos gerais, dentre outras coisas. Mas a educação vem de casa. Quem deve ensinar a andar, tirar a fralda, chupeta, falar “obrigado”, “por favor”, portar-se à mesa, ter afeto, modo de conversar etc., é a família! Portanto, não exija uma educação exemplar se você não tem paciência para mostrar ao seu filho o que é certo.
3) Falta de limites
Assim como na educação, os pais é que devem saber impor limites às crianças. As crianças terceirizadas, na grande maioria das vezes, não têm limites. Isso porque os pais chegam em casa tarde da noite e não querem brigar com os filhos, não querem que as crianças chorem ou gritem por algum motivo, então eles acabam cedendo a tudo o que os filhos exigem. E esse tipo de atitude é crucial na educação.
4) Prioridade invertida
O que acontece atualmente é que os pais têm grande limitação em abrir mão do conforto da vida que tinham antes dos filhos. Ou seja, querem o prazer de ter filhos, mas ignoram o desprazer, como se o ônus e o bônus não fizessem parte do mesmo pacote. O que é realmente prioridade na vida dos pais? A presença do pai ou da mãe é fundamental nos momentos de troca de fralda, quando a criança está adoecida, quando está num momento de birra… Não apenas quando está sorrindo e brincando.
5) A não valorização do outro
Diversos casos de delinquência juvenil, quando observados de perto, mostram crianças que foram totalmente solitárias, criadas sem vínculos razoáveis e, por viverem sob um abandono dilacerante, não aprenderam a valorizar “o outro” e não pensam que as pessoas devam ser respeitadas.
6) Problemas com figuras de autoridade
As crianças verdadeiramente terceirizadas, ou seja, as que possuem vínculos enfraquecidos com seus pais, provavelmente terão uma relação complicada com figuras de autoridade, pois, ao longo de suas vidas, exerceram autoridade sobre ela, pessoas com quem ela não possuía vínculos afetivos suficientes.
7) Baixa autoestima
A forte ausência dos pais pode também causar baixa autoestima nas crianças. É muito importante que os pais estejam presentes nos eventos escolares, nas entrevistas com os professores, nos jogos de futebol do colégio e qualquer outro compromisso em que elas solicitem sua presença. A “falta” dos pais nessas ocasiões, mexe muito mais com os filhos do que você imagina. Principalmente, no momento de ir aos consultórios médicos (hoje em dia muitos pais delegam essa “função” para as babás). As crianças já se sentem acuadas nesses ambientes, e a presença de um dos pais é fundamental para transmitir confiança, segurança e conforto.
8) Problemas comportamentais
Estes problemas são muitas vezes um escudo que as crianças usam para proteger suas questões profundas de abandono e medo. Por exemplo, uma criança que vive em um lar com pais totalmente ausentes, tem mais chances de desenvolver uma atitude negligente com um ar de superioridade arrogante para esconder o fato de que ela realmente os quer em sua vida. 
9) Sensação de falta de afeto
Muitos pais podem estar fisicamente próximos de seus filhos durante a maior parte do dia, mas podem não estar afetivamente disponíveis a eles. Não conversam intimamente, não brincam, brigam e gritam a maior parte das vezes que se dirigem à criança. Crianças precisam se sentir amadas, precisam saber que são prioridade! Não consigo imaginar meus filhos sentindo falta de afeto, isso aperta meu coração. Tudo o que mais queremos na vida é que nossos filhos saibam que são as pessoas mais importantes das nossas vidas e que são MUITO amados! Isso faz toda diferença no desenvolvimento deles.

E, por fim, convido vocês a assistirem à entrevista do Dr. José Martins Filho: