sábado, 20 de junho de 2015

MACHADO DE ASSIS

5 curiosidades sobre Machado de Assis

VEJA na Sala de Aula

Aproveite a recente polêmica sobre adaptação das obras do escritor para trabalhar com a classe as características marcantes de sua literatura

Nas últimas semanas, a polêmica iniciativa da escritora Patrícia Engels de reeditar o livro "O Alienista", de Machado de Assis, repercutiu intensamente entre educadores, jornalistas e leitores. Com o propósito de facilitar a compreensão das obras de autores clássicos e estimular a sua disseminação, a escritora desenvolveu o projeto "Os clássicos e a leitura". A iniciativa pretende republicar obras como "O alienista", de Machado de Assis, fazendo adaptações linguísticas que irão simplificar o seu conteúdo e atualizar termos e expressões da época para os dias de hoje.
Enquanto ela justifica o projeto como uma maneira de aproximar o escritor da realidade de quem não tem acesso frequente à leitura, muitos críticos alegam que a ação fere o cânone literário, comprometendo a qualidade e a subjetividade do texto.

A discussão ainda vai durar bastante tempo e está longe de terminar: mais de seis mil pessoas já assinaram uma petição online pedindo que o MinC intervenha na publicação das obras e impeça que ela seja concluída. Enquanto o assunto não é resolvido, que tal aproveitar a presença do "bruxo do Cosme Velho" no noticiário para trabalhar com a classe as curiosidades que ele (e somente ele) deixaram para a história da literatura brasileira?

1.Infância

Machado de Assis teve uma infância pobre e chegou a vender balas e doces para poder ganhar dinheiro. Nascido no Morro do Livramento, ele era filho de um pintor negro e de uma lavadeira de origem portuguesa. Ainda criança, foi apadrinhado por Dona Maria José de Mendonça, esposa do senador Bento Barroso Pereira, o que lhe rendeu um constante convívio com as classes mais abastadas. Alguns críticos consideram que esse contato com as elites fizeram com que Machado renunciasse suas origens e evitasse tocar nesse assunto em seus livros. De fato, é possível constatar em suas obras o retrato fiel da vida da nobreza na corte carioca, mas raramente a realidade da população pobre é comentada.

2.Transição literária
Apesar de ser um autor ícone do Realismo brasileiro, Machado começou a sua carreira literária escrevendo com traços do Romantismo. "Ela", seu primeiro poema publicado em 1885 já possui essas características, que viriam a se acentuar com os poemas de "Crisálidas" (1864) e com os romances "Ressureição" (1872), "Helena" (1876) e "Iaiá Garcia" (1878). O abandono do Romantismo e a adoção do estilo frio e irônico que tanto caracterizam as obras de Machado só viriam mais para frente, com a publicação de "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881). Para alguns críticos, nesta fase há uma clara influência dos escritores franceses Gustave Flaubert e Honoré de Balzac, principalmente com traços como o humor, o pessimismo e o diálogo constante com o leitor.

 3. Gêneros literários
Até o século 19, o romance era o formato literário de maior repercussão no cenário internacional e também no Brasil. Machado rompeu com essa hegemonia, sendo um dos primeiros autores de grande repercussão a inserir o conto dentro de nossa literatura. Mais curto que o romance e focado em uma única ação de desfecho inesperado, o conto possibilitou a Machado desenvolver uma literatura de caráter essecialmente psicológico, dando menos peso ao enredo em si e intensificando a abstração subjetiva dos personagens. Nota-se aqui, novamente, a influência direta de Honoré de Balzac, que já havia adotado o conto como sua estrutura preferencial.
4. Imprensa
A ligação do escritor com a imprensa também é um destaque importante. Ao longo de sua vida, Machado passou pelas mais diversas redações do Rio de Janeiro da época - como Marmota Fluminense A notícia -, tendo iniciado sua carreira de jornalista como tipógrafo na Imprensa Nacional. Um fato curioso dessa época foi que, por ler demasiadamente em seu horário de trabalho, o jovem escritor foi demitido pelo chefe, Antônio Manuel de Machado (autor de "Memórias de um Sargento de Milícias"). Apesar da demissão, o caso contribuiu para que ambos se tornassem grandes amigos. Dessa sólida amizade, o escritor obteve o incentivo literário e a proteção de Antônio Manuel de Machado.

5. Diálogo constante
Uma característica bastante recorrente na obra de Machado é o diálogo, tanto entre o autor e o leitor quanto entre os personagens de diferentes livros. Logo no início de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o narrador conversa com o leitor, explicando quais foram os motivos que o levaram a escrever o livro. Em "Esaú e Jacó", Machado alega que as páginas a seguir são manuscritos de um certo Conselheiro Aires, encontrados após sua morte. O mesmo Conselheiro viria a aparecer como personagem de "Memorial de Aires". Já em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o protagonista é frequentemente aconselhado pelo filósofo Quincas Borba, com quem estudara na infância - o mesmo Quincas Borba volta a surgir no livro homônimo publicado em 1892.
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