segunda-feira, 29 de junho de 2015

DICAS REDAÇÃO ENEM - LÁPIS RARO

Título na redação: cinco dicas que podem resolver suas dúvidas

Ana Lourenço | 23/02/2015
Imagine que você está em uma livraria. Na hora de procurar um livro para comprar, quais fatores você leva em conta? A capa e o nome com certeza fazem toda a diferença na hora de julgar se aquele livro é ou não bom, ou se te deu vontade de ler. Com a redação também é assim: o título é o responsável por chamar a atenção do leitor e resumir o assunto do qual ele trata.
Apesar de importante, algumas provas de redação não pedem título – caso do Enem, em que ele é opcional. Outras, como a Fuvest, exigem o título, mas nesses casos a exigência é sempre colocada na proposta (não precisa sair decorando quais provas pedem e quais não pedem).
titulo-escrevendo
Obrigatório ou não, o título pode ser o diferencial no seu texto. Se você souber fazê-lo e ficar bem colocado no texto, é recomendável o uso, mesmo que ele não seja exigido pela prova.
Veja cinco dicas sobre o que é importante saber sobre esse recurso:
1) O título é a síntese do tema
Se o nome de um livro ou de um filme deve entregar um pouco do que será tratado naquela obra, com o título da redação é a mesma coisa: ele deve sintetizar o que o leitor vai encontrar ao longo do texto. Além disso, um título bem trabalhado pode fazer o corretor notar que você entendeu perfeitamente a proposta. Por isso, use a simplicidade e faça um título em que o tema fique claro.
Dica: Algumas pessoas preferem fazer o título antes do texto, para servir como guia. Mas nem sempre isso dá certo: pode ser que, ao longo do texto, você acabe mudando o foco e o título perca um pouco do sentido. Para evitar que isso aconteça, uma sugestão é fazer o título sempre depois que o texto estiver pronto. Assim, você pode se basear nele para definir exatamente qual frase encaixa mais com o que você escreveu.
2) Nada de frases longas
Primeira regra para fazer um bom título: ele deve ser curto! Procure usar no mínimo três palavras, e evite que o tamanho da frase seja maior do que metade da linha.
3) O verbo é opcional
O título não precisa ser, necessariamente, uma oração completa com sujeito e predicado, como “O desmatamento é o pior crime contra a natureza”. Pode, também, ser uma expressão sem verbo, como “O problema da reforma agrária”. Mas usar a expressão, apesar de resolver o problema do título longo, pode ser perigoso: é preciso que ela consiga sintetizar o tema, mesmo sem o verbo. Na dúvida, aposte no que parecer mais fácil na hora.
Lembrete: Jamais use o tema dado pela banca como título. O tema é o assunto estipulado pela banca sobre o qual você vai escrever; o título é a frase para encabeçar o seu texto, que você mesmo deve criar. Fique atento, copiar qualquer parte da proposta de redação pode provocar a anulação do texto!
4) Aposte na sua criatividade
É importante que o título deixe claro o que você vai abordar, mas usar da criatividade pode deixá-lo muito mais interessante para a banca corretora. Nada impede que você use figuras de linguagem ou mesmo uma citação (entre aspas, sempre) no título. Mas lembre-se que a simplicidade é fundamental: tentar rebuscar demais pode dificultar o entendimento da frase.
Dica: fuja de lugares-comuns, chavões, frases prontas e gírias. Usar da criatividade é o oposto disso.
5) Ponto final, letras maiúsculas, linha em branco
- Pode usar ponto no fim da frase? O título normalmente não tem ponto, mas, se for uma oração, você pode usar o ponto final. Se for uma expressão sem verbo, não.
- Devo usar letra maiúscula em todas as palavras? Não. Escreva o título como se estivesse escrevendo uma frase normal, usando a maiúscula apenas em palavras que a exijam, como nomes próprios.
- Devo pular uma linha depois do título? Depende. Pular a linha deixa o texto esteticamente melhor – mais bonito, digamos. Mas não é obrigatório, especialmente se o limite de linhas for pequeno.

ORAÇÃO DA SEMANA

domingo, 28 de junho de 2015

FILÓSOFO - JEAN-JACQUES ROUSSEAU

Jean-Jacques Rousseau, o filósofo da liberdade como valor supremo

Em sua obra sobre educação, o pensador suíço prega o retorno à natureza e o respeito ao desenvolvimento físico e cognitivo da criança

Márcio Ferrari (novaescola@fvc.org.br)
|<<Página 2 de 4>>|
Bom selvagem

Até aqui o pensamento de Rousseau pode ser tomado como uma doutrina individualista ou uma denúncia da falência da civilização, mas não é bem isso. O mito criado pelo filósofo em torno da figura do bom selvagem - o ser humano em seu estado natural, não contaminado por constrangimentos sociais - deve ser entendido como uma idealização teórica. Além disso, a obra de Rousseau não pretende negar os ganhos da civilização, mas sugerir caminhos para reconduzir a espécie humana à felicidade.

Não basta a via individual. Como a vida em sociedade é inevitável, a melhor maneira de garantir o máximo possível de liberdade para cada um é a democracia, concebida como um regime em que todos se submetem à lei, porque ela foi elaborada de acordo com a vontade geral. Não foi por acaso que Rousseau escolheu publicar simultaneamente, em 1762, suas duas obras principais, Do Contrato Social - em que expõe sua concepção de ordem política - e Emílio - minucioso tratado sobre educação, no qual prescreve o passo-a-passo da formação de um jovem fictício, do nascimento aos 25 anos. "O objetivo de Rousseau é tanto formar o homem como o cidadão", diz Maria Constança Peres Pissarra, professora de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "A dimensão política é crucial em seus princípios de educação."

Não há escola em Emílio, mas a descrição, em forma vaga de romance, dos primeiros anos de vida de um personagem fictício, filho de um homem rico, entregue a um preceptor para que obtenha uma educação ideal. O jovem Emílio é educado no convívio com a natureza, resguardado ao máximo das coerções sociais. O objetivo de Rousseau, revolucionário para seu tempo, é não só planejar uma educação com vistas à formação futura, na idade adulta, mas também com a intenção de propiciar felicidade à criança enquanto ela ainda é criança.


Continue lendo

sábado, 20 de junho de 2015

MACHADO DE ASSIS

5 curiosidades sobre Machado de Assis

VEJA na Sala de Aula

Aproveite a recente polêmica sobre adaptação das obras do escritor para trabalhar com a classe as características marcantes de sua literatura

Nas últimas semanas, a polêmica iniciativa da escritora Patrícia Engels de reeditar o livro "O Alienista", de Machado de Assis, repercutiu intensamente entre educadores, jornalistas e leitores. Com o propósito de facilitar a compreensão das obras de autores clássicos e estimular a sua disseminação, a escritora desenvolveu o projeto "Os clássicos e a leitura". A iniciativa pretende republicar obras como "O alienista", de Machado de Assis, fazendo adaptações linguísticas que irão simplificar o seu conteúdo e atualizar termos e expressões da época para os dias de hoje.
Enquanto ela justifica o projeto como uma maneira de aproximar o escritor da realidade de quem não tem acesso frequente à leitura, muitos críticos alegam que a ação fere o cânone literário, comprometendo a qualidade e a subjetividade do texto.

A discussão ainda vai durar bastante tempo e está longe de terminar: mais de seis mil pessoas já assinaram uma petição online pedindo que o MinC intervenha na publicação das obras e impeça que ela seja concluída. Enquanto o assunto não é resolvido, que tal aproveitar a presença do "bruxo do Cosme Velho" no noticiário para trabalhar com a classe as curiosidades que ele (e somente ele) deixaram para a história da literatura brasileira?

1.Infância

Machado de Assis teve uma infância pobre e chegou a vender balas e doces para poder ganhar dinheiro. Nascido no Morro do Livramento, ele era filho de um pintor negro e de uma lavadeira de origem portuguesa. Ainda criança, foi apadrinhado por Dona Maria José de Mendonça, esposa do senador Bento Barroso Pereira, o que lhe rendeu um constante convívio com as classes mais abastadas. Alguns críticos consideram que esse contato com as elites fizeram com que Machado renunciasse suas origens e evitasse tocar nesse assunto em seus livros. De fato, é possível constatar em suas obras o retrato fiel da vida da nobreza na corte carioca, mas raramente a realidade da população pobre é comentada.

2.Transição literária
Apesar de ser um autor ícone do Realismo brasileiro, Machado começou a sua carreira literária escrevendo com traços do Romantismo. "Ela", seu primeiro poema publicado em 1885 já possui essas características, que viriam a se acentuar com os poemas de "Crisálidas" (1864) e com os romances "Ressureição" (1872), "Helena" (1876) e "Iaiá Garcia" (1878). O abandono do Romantismo e a adoção do estilo frio e irônico que tanto caracterizam as obras de Machado só viriam mais para frente, com a publicação de "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881). Para alguns críticos, nesta fase há uma clara influência dos escritores franceses Gustave Flaubert e Honoré de Balzac, principalmente com traços como o humor, o pessimismo e o diálogo constante com o leitor.

 3. Gêneros literários
Até o século 19, o romance era o formato literário de maior repercussão no cenário internacional e também no Brasil. Machado rompeu com essa hegemonia, sendo um dos primeiros autores de grande repercussão a inserir o conto dentro de nossa literatura. Mais curto que o romance e focado em uma única ação de desfecho inesperado, o conto possibilitou a Machado desenvolver uma literatura de caráter essecialmente psicológico, dando menos peso ao enredo em si e intensificando a abstração subjetiva dos personagens. Nota-se aqui, novamente, a influência direta de Honoré de Balzac, que já havia adotado o conto como sua estrutura preferencial.
4. Imprensa
A ligação do escritor com a imprensa também é um destaque importante. Ao longo de sua vida, Machado passou pelas mais diversas redações do Rio de Janeiro da época - como Marmota Fluminense A notícia -, tendo iniciado sua carreira de jornalista como tipógrafo na Imprensa Nacional. Um fato curioso dessa época foi que, por ler demasiadamente em seu horário de trabalho, o jovem escritor foi demitido pelo chefe, Antônio Manuel de Machado (autor de "Memórias de um Sargento de Milícias"). Apesar da demissão, o caso contribuiu para que ambos se tornassem grandes amigos. Dessa sólida amizade, o escritor obteve o incentivo literário e a proteção de Antônio Manuel de Machado.

5. Diálogo constante
Uma característica bastante recorrente na obra de Machado é o diálogo, tanto entre o autor e o leitor quanto entre os personagens de diferentes livros. Logo no início de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o narrador conversa com o leitor, explicando quais foram os motivos que o levaram a escrever o livro. Em "Esaú e Jacó", Machado alega que as páginas a seguir são manuscritos de um certo Conselheiro Aires, encontrados após sua morte. O mesmo Conselheiro viria a aparecer como personagem de "Memorial de Aires". Já em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o protagonista é frequentemente aconselhado pelo filósofo Quincas Borba, com quem estudara na infância - o mesmo Quincas Borba volta a surgir no livro homônimo publicado em 1892.
Quer saber mais?

ARTIGOS - LÁPIS RARO

Você já agradeceu ao seu professor hoje?

Esta pode ser a história mais incrível que você lerá esta semana. Saiba o porquê


Marcelo Agimóvel
Pixabay/CC0 Public Domain
Você já teve um professor que mudou a sua visão de mundo? Fez você observar as coisas de um outro prisma? Ensinou você a questionar ao invés de aceitar tudo o que lê ou escuta? A maioria de nós já teve, mas no caso de Les Brown, esta pessoa com certeza fez a diferença entre a miséria e o sucesso. Um dos maiores motivadores do mundo, na verdade, nem sempre foi tão motivado assim.
Nascido em Miami, Flórida, em um prédio abandonado e criado com um irmão gêmeo, Les Brown acabou adotado. Na quinta série, foi denominado mentalmente-retardado-educacional, sendo colocado de volta para a quarta série e levando com aquela denominação até o terceiro ano do Ensino Médio.
(Imagem: CC0 Public Domain)

SISU 2º/2015

Sisu

Matrículas de aprovados no Sisu 2º/2015 começam nesta sexta-feira (19)

Prazo termina no dia 23 de junho

da redação | 19/06/2015 11h 30
Os candidatos selecionados na chamada regular do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) podem fazer matrícula nas instituições de ensino a partir desta sexta-feira (19). O prazo termina no próximo dia 23. O candidato deve verificar, na instituição de ensino em que foi aprovado, o local, horário e os procedimentos para a matrícula. O resultado do Sisu foi divulgado segunda-feira (15), no site da seleção.
Greve
Os estudantes devem ficar atentos às instituições que estão parcialmente em greve, o que pode prejudicar a matrícula. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que teve o maior número de convocados no Sisu, adotou nesse semestre o registro acadêmico online para tentar contornar o problema. “Neste momento, não haverá atendimento presencial, e o registro acadêmico deve ser feito de forma online”, confirma o reitor Jaime Ramírez.
O registro acadêmico online já foi realizado por mais de 600 dos 2.714 alunos selecionados em primeira chamada desta segunda edição de 2015 do Sisu na UFMG.
A Universidade Federal do Piauí (UFPI), apesar de parcialmente em greve, confirmou em nota no fim da tarde de quinta (18) que fará a matrícula presencial dos convocados. Saiba mais.
O estudante deverá acompanhar, junto à instituição para a qual foi selecionado, qual será o procedimento para a matrícula.


Lista de espera
O Sisu seleciona estudantes para vagas em instituições públicas de ensino superior com base nas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Quem não foi selecionado na chamada regular pode aderir à lista de espera até o dia 26 deste mês, no site do Sisu. A convocação está prevista para 2 de julho.
- Candidatos do Sisu 2º/2015 já podem aderir à lista de espera

Esta segunda edição de 2015 do Sisu ofertou 55.576 vagas em 72 instituições. Se inscreveram 1.192.622 candidatos. O curso de medicina foi o mais procurado, com 185.818 inscrições. As instituições mais procuradas foram as universidades federais de Minas Gerais (176.285 inscrições), do Rio de Janeiro (139.406) e do Maranhão (136.480). Cerca de 40% dos candidatos estão na faixa etária entre 18 e 20 anos.

EDUCAÇÃO

Negar a crianças devido acesso à educação é uma morte simbólica.

Renato Janine Ribeiro

Renato Janine Ribeiro



Visualize a seguinte cena: centenas de países reunidos num imenso auditório de um encontro internacional, e as primeiras imagens na abertura do encontro são de crianças do Nordeste brasileiro trilhando quilômetros no lombo de um jumento, para poder chegar à escola.
É bastante simbólico que a Unesco tenha escolhido tais fotografias para abrir o Fórum Mundial de Educação. São imagens fortes, que mostram o firme propósito de, a despeito das adversidades, irmos na direção do direito humano ao saber. Uma observação nas fotos: as crianças estão alegres, a escola é limpa e bem cuidada.
Por ocasião do Fórum Mundial de Educação na cidade de Incheon, na Coreia do Sul, o Brasil teve a oportunidade de enviar uma delegação de representantes do MEC e da sociedade civil, para se reunirem com mais de uma centena de países em prol do comprometimento internacional pelo direito à educação. Tivemos um papel de destaque, sendo convidados a participar de diversas mesas e plenárias.
Fomos apontados como referência mundial no combate à miséria e no acesso dos mais pobres ao estudo. Durante a primeira gestão da presidenta Dilma Rousseff, a ONU reconheceu que o Brasil saiu do mapa internacional da fome. Se para alguns brasileiros que nunca passaram fome isso não parece grande coisa, quem se beneficiou sabe do que falo. E na verdade a fome de dez ou vinte por cento da população é uma vergonha para todos! Dezenas de países do mundo adorariam estar no lugar do Brasil nesse momento.
É nesse ponto que os mais céticos e mesmo os cínicos (não no sentido da escola filosófica fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates, mas no sentido coloquial do termo) esboçarão seus poréns, ressaltando os aspectos negativos da condição educacional brasileira.
Sim, sei que estamos longe do ideal, e saliento que o governo brasileiro jamais se furtou a participar do Pisa (Programa Internacional de Avaliação dos Alunos), mesmo não tendo a obrigação de se submeter a tal exame, já que não somos membro da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Mas a principal razão é que, quando se trabalha com políticas públicas, é preciso ter uma percepção que vai além da comparação com os outros, mas que compare o Brasil consigo mesmo ao longo dos anos.
Ora, observando os resultados do Pisa ao longo de doze anos, o crescimento brasileiro é inegável. E o PNE (Plano Nacional de Educação), com suas metas para a próxima década, tem por objetivo ir cada vez mais na direção desse alto ideal. Que fique claro: não apenas para obtermos boas notas em indexadores internacionais, mas também – e principalmente – porque uma boa educação é um direito humano.
Ao final do Fórum Mundial de Educação, foi redigida a Declaração de Incheon, cujo teor apresenta várias interseções com o Plano Nacional de Educação. Em diversos outros tópicos da Declaração, nosso país já está bem adiantado. Dou como exemplo o comprometimento internacional de aplicar no mínimo entre 4% e 6% do PIB na educação. O Brasil já aplica mais de 6%, e a meta número 20 do PNE determina que aumentemos os investimentos para 7% do PIB em até cinco anos, e que alcancemos o ideal de 10% do PIB em dez anos.
Ressalto que não se trata apenas do quanto se gasta, mas de como se gasta. Os países-membros da OCDE gastam em média 5,6% do PIB em educação, e obtêm resultados melhores que os nossos. Tudo isso precisará ser discutido, e o PNE constitui excelente oportunidade para promovermos esse espaço de debates. O Ministério da Educação é o ponto forte que possibilita o encontro de Estados e municípios, a fim de debater o PNE.
Acima de partidos
Não cabe ao MEC, nem a ninguém, estabelecer comandos verticais que digam ao Brasil o que deve ser feito. Não somos e não queremos ser uma corte de reis-filósofos que ditam a verdade ao mundo. Nosso país é imenso e repleto de peculiaridades regionais, valoriza a diversidade e a estimula. Por isso, cada município e Estado foi convocado a apresentar seus planos municipais, estaduais e distrital (no caso de Brasília) de educação.
O PNE está acima dos partidos. É em torno dele que podemos nos unir enquanto nação em prol de uma causa maior, sem desrespeitar nossas diferenças, mas criando alguns consensos. A democracia não é o espaço da concordância absoluta, mas permite as discussões civilizadas – o que é obrigação moral nossa, se quisermos dar um bom exemplo aos nossos filhos.
Não podemos exigir "mais educação" dos jovens, se nos tornarmos exemplos de propagadores do ódio e da intolerância. Mas acredito no enorme potencial de uma educação para a paz. Se mais de cem países conseguiram conviver harmoniosamente, mesmo com suas diferenças, por que os partidos brasileiros não conseguiriam fazer o mesmo? Basta ter em mente que – como bem diz um provérbio indígena - "a terra não é nossa, não a herdamos de nossos ancestrais, a tomamos emprestada de nossos filhos".
Ainda sobre a Declaração de Incheon, nosso país está bastante adiantado. Já vencemos há muito a discussão sobre o direito à equidade de gênero nas escolas e, mesmo que exista desigualdade de oportunidades e de salários entre mulheres e homens na prática, a Constituição é clara o bastante para nos fortalecer no combate às disparidades ainda existentes. O Brasil já atingiu a maior parte das recomendações na Declaração de Incheon sobre a equidade de gênero.
As metas do PNE dizem respeito ao que é preciso conquistar, não ao que já conquistamos! A mesma garantia constitucional não ocorre em diversos países, e foi com algum esforço que vencemos sua resistência, de modo a incorporar, na Declaração de Incheon, o compromisso internacional de implementar políticas capazes de oferecer segurança às mulheres. O Brasil teve a honra de fazer parte desse time de enfrentamento, dessa exigência internacional de que o direito à educação seja contemplado independentemente do sexo.
Felicidade do dever cumprido
Não poderíamos nos posicionar de modo diferente. Durante o encontro em Incheon, recebi uma carta enviada por Malala Yousafzai, a estudante e ativista paquistanesa laureada com o Nobel da Paz em 2014, que quase foi assassinada num atentado terrorista apenas porque queria estudar. Malala apelava ao Brasil que pleiteasse e garantisse a equidade de gênero no acesso à educação. A Declaração de Incheon é a resposta do mundo ao seu justo apelo, Malala.
No Brasil, uma moça não será alvo de tentativa de assassinato porque deseja estudar, mas temos outros problemas. Há várias formas de violência, e nada fazer diante de quem sofre é uma delas.
Não matamos apenas quando agredimos os outros, matamos quando nada fazemos. Matamos simbolicamente sempre que uma criança não tem o devido acesso à educação e deixa de ter voz para, como Malala, lutar por um mundo melhor.
A Declaração de Incheon estabelece a necessidade mínima de doze anos de educação primária e secundária. O Brasil já cumpre essa meta mínima, mas é preciso muito mais. A meta número 9 do PNE estabelece que avancemos decididamente rumo à supressão do analfabetismo. Precisamos lutar por isso e por todos os pontos do PNE, para que o possível se torne real. Para que, no próximo Fórum Mundial de Educação, as imagens de abertura mostrem não apenas esforço e vontade, mas também a felicidade do dever cumprido.